domingo, 25 de dezembro de 2011

O paradoxo do agir...




          Por quais razões não podemos nos contentar com o essencial ou enxergar a singela verdade por trás das coisas e mesmo assim poder admirar a beleza do todo? A felicidade ,que se limita a tangenciar a vida nos momentos mais inesperados, fez do homem um ser cruel, pois este supervaloriza o ganho, mas jamais sabe lidar com a perda. Logo esta fera busca usufruir da felicidade alheia. De fato não largamos nosso comportamento primitivo, só o tornamos civilizado. Ainda nos subjugamos às mesmas regras.
          Contudo, foram criados valores, noções de honra, virtudes, conceitos de ética e em prol da harmonia surgiu a moral. Abstrações que tornaram o convívio humano suportável num ambiente em que a espécie proliferava muito além do naturalmente aceitável. Via-se então a necessidade de criar um novo ambiente, adaptado às nossas demandas. O animal domou a si, mas em essência ainda é o mesmo.
          O primordial, esse sim é o foco. Tudo compartilha uma mesma origem. Tal como a música, composta por um série de acordes, formados por conjuntos de notas, notas estas que se resumem em vibração, uma frequência específica, um traço de energia, intangível. A matéria, conglomerados de átomos, partículas que se mantém unidas porque vibram em uma frequência consonante, pois do contrário se desfazem em energia.
           Só o tempo talvez se livre dessa premissa, talvez por ser a maior das abstrações. Não há como conceituar o tempo, caso flua, ela se desdobra num plano superior, nunca o compreenderemos. Nada talvez ilustre melhor essa ideia que uma passagem do romance "Planolândia" de Edwin A.Abbott em que um quadrado, habitante de um mundo bidimensional, se intriga com uma misteriosa circunferência que repentinamente aparece, se expande ao ápice e volta a encolher até desaparecer, mas não consegue contemplar a esfera causadora deste fenômeno.
           Somos agraciados com uma realidade admirável, mas não paramos para analisar sua fragilidade e o quão pouco sabemos sobre ela. O gênio humano nutre uma extraordinária arrogância. Atribuímos valor a tudo de modo que as coisas mais singelas não nos atraem por serem desprovidas de grandiosidade, mesmo que detenham os mais relevantes saberes.


@Ferreira_GMV

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Renascer...



Tudo o que revive, por lógica, já, de alguma forma, pereceu. Se pelo fogo, tal como a fênix, renascerá das cinzas, mas se corroído pelo tempo de que forma irá retornar? Se da memória apagada de uma ideologia conseguimos salvar a essência, será por meio do mais ínfimo e puro ato, o de compor a personalidade da coisa. Se deste altar de reflexão me retirei é porque visava um retorno que carregasse consigo tudo de novo que o residente deste corpo viveu, sentiu, compreendeu, mas que principalmente criou, com o simples dom da insanidade.         
A loucura é o berço da razão. Da anormalidade é que se tiram conclusões relevantes, do comum temos sorte se destilarmos uma ou duas virtudes. O diferente se destaca, e por se destacar vira alvo, foco de repulsa e preconceito, fonte não de todos os medos, mas do maior deles, o medo da mudança. Insano é aquele ergue a bandeira do progresso e ironicamente é este o primeiro racional de uma nova geração, assim como qualquer revolucionário se torna o mais fervoroso conservador após a revolução.
Assim que uma ideia se assenta ela já é ultrapassada. Num primeiro minuto toda a essência de uma tendência se esvai, têm inínio o deley dos disparos, o progresso fica estagnado pelo tempo que durar o efeito entorpecente da mudança, depois o mundo se agita, percebe a mais singela premissa, o homem não foi feito para ficar parado. Energizados pelo choque de compreenção passamos a buscar um alvo abstrato, composto por uma realidade ainda desconhecida, que a chama que arde na mente de cada um de nós anseia iluminar.
          O que não compreendo é como hoje o esplendor de uma tocha pode se encontrar resumido no espaço de uma fagulha. Dividida, essa ânsia de milhares se encontra amparada por poucos. Como chegar ao topo do progresso? Inatingível... O conformismo se confunde com a interpretação mais ridiculamente simples e errônea do pragmatisto: “buscar fazer somente aquilo que se mostre fácil e não demande esforço”. A ânsia destruída pela contra-chama de um imperialismo comportamental, cujas cinzas o tempo insiste em corroer, parece lentamente perder sua essência, mas uma mente dissonante, naturalmente, visa preservá-la.


@Ferreira_GMV