sábado, 29 de setembro de 2012

Abstração


      A visão do progresso entorpece!

          A natureza humana foi o foco do pensamento iluminista. Fruto de uma sociedade obscurecida por dogmas, o pensamento revolucionário de reconstrução da civilização, a partir de seus alicerces, precisava conhecer a essência do objeto formador desse meio. Entre bom e mau, o homem só provou ser plural. A luta iluminista em julgar o homem europeu permanece inconclusiva, imagine então a impossibilidade de expandi-la à humanidade. Logo, não é interessante focar no homem puro, pois a mácula da sociedade é profunda. Passou-se então a observar os grupos humanos. 
          Diante de tal disparidade, o homem branco europeu não foi capaz de compreender a dinâmica humana. Fez-se acreditar que sua superioridade tecnológica era evidência de superioridade biológica. As teorias evolutivas de Darwin foram as justificativas para um etnocídio de proporções mundiais que se arrasta na história até os dias atuais. O europeu fez do mundo um grosseiro reflexo de sua própria sociedade, impôs aos povos ditos inferiores as regras que lhe cabiam bem, mas não foi humano ao ponto de ponderar os impactos disto.
          A tentativa civilizatória não só falhou como também inviabilizou o desenvolvimento das áreas ocupadas. Em um verdadeiro amensalismo social, foi tirado desses povos dominados o potencial de desenvolvimento, deixando um legado de dependência econômica e política. O homem civilizado, no momento, preferiu ignorar o processo histórico e justificou falha da empreitada, novamente, através da inferioridade biológica que se dizia presente nos povos dominados. Os bárbaros, portanto, eram incapazes de atingir a civilidade e, logo, constituíam uma ameaça passível de eliminação. 
          Era a origem da Eugenia, uma tentativa de controlar a natureza atuando na evolução do próprio homem, uma ideologia já adotada na antiga Esparta e antes dela pelas tripos de Homo sapiens que dizimaram os homens de neandertal. Era a natureza real do homem ganhando forma ideológica. Quanto tomamos consciência de nossa existência buscamos aprimorar nossas habilidades de maneira rápida e eficaz, tornamos nossa evolução exponencial. O problema nisso é o que julgamos como sendo digno de aprimoramento. 
           Nos identificamos com aquilo que somos e essa se torna nossa concepção de ser humano. Nos aliamos a nossos semelhantes para combater os que fogem à regra. Na sociedade vemos essa rivalidade entre etnias, mas conforme avançamos rumo ao indivíduo percebemos que existem círculos de aceitação dentro dos círculos de aceitação. Defendemos nosso país diante do mundo, defendemos nosso estado diante do país, nossa cidade diante do estado, nossos amigos diante da sociedade e nós próprios diante destes. 
          Como atingir a paz então? Em um mundo onde a intolerância pode ser ditada por diferenças sutis, precisamos criar a identidade humana. Para tal seria necessário um antagonista presente e evidente, algo para forçar todos os homens à se unirem em uma causa comum. Talvez tal papel seja desempenhado por uma ameaça natural ou até como muitos afirmam por uma civilização extra-terrestre. Só podemos afirmar uma coisa, para existir plena paz entre os homens, é necessário que os homens estejam em guerra contra algo.

Ferreira_GMV