segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Tempestade

    

          Encontro em mim uma enseada de águas rasas, cercada de montanhas e horizontes infinitos; acima dela um céu repleto de fornalhas nucleares, corações de pura energia pulsante. Uma visão de sonho anterior ao próprio tempo, na qual o significado das coisas é efêmero e ao mesmo tempo eterno. Ínfima é minha grandeza e imensurável é aquilo que há para se descobrir. Uma onipotente impotência que todo homem sente ao admirar o céu. 
          É inerente ao cosmo que haja ordem; logo, qual a lei que a tudo rege? Pois digo que não há. Tudo aquilo que existe e flui é desregrado; entretanto, ainda reina a ordem. Fatos não pressupõem explicações, somente a existência de algo a ser contemplado, admirado e utilizado. Criamos, de fato, uma lógica ilusória; axiomas plenamente dogmáticos. Somos feitos de tolos por nossas próprias palavras, pois nada é, realmente, da maneira como percebemos. Nos escapa a quintessência natural das coisas. 
         Ao subir os olhos à escuridão plangente que nos rodeia, vemos quão paradoxal é a realidade. Poderia, de fato, todo aquele vazio estar repleto de energia e conceitos que desafiam nossa compreensão? Aliás, que compreensão? Somos mentes perdidas em busca de amparo, de reconhecimento. O que sabemos das reais verdades senão a singela premissa de sua existência? Ao menos cinco sentidos humanos e nenhum capaz de captar as mais simplórias e superficiais essências.

          Somos  parte do  fluxo, nunca  sua  totalidade. Nos embrenhamos em rotas infinitas e desbravamos caminhos impensáveis, mas sem nunca alterar a lógica maior; ela é alheia a nós. Somos agentes de missões hedonistas, filhos da mais ancestral das ânsias, artífices da real felicidade. Somos criadores de mundos e relicários de universos singulares, moldados à vontade do acaso e eternamente talhados pela percepção.

terça-feira, 12 de março de 2013

Infinitos Assimétricos



          O universo é uma harmonia de contrários. Enxergar o cosmos como uma unidade simetricamente perfeita é o mais fundamental axioma pitagórico. Tudo o que até recentemente o homem era capaz de mensurar parecia comprovar essa certeza latente. A realidade como expressão matemática era compreensível, justificável e, portanto, plenamente aceitável. Contudo, os limites micro e macroscópicos tendem a um estado caótico, ainda complexo demais para a lógica humana.
          A cada instante, o universo aumenta sua entropia. Efeitos aleatórios moldam um cosmos tão caótico que este não é capaz de retornar a um estado prévio. A informação se perde a cada choque e colisão, partículas subatômicas e galáxias se mesclam em um ambiente de constante evolução, no qual as imperfeições da onírica simetria cósmica marcam o progresso e o sentido do tempo. A lógica fundamental não se aplica, pois há variáveis demais para se controlar.
          Tal como na angústia sartriana, o homem não consegue prever o destino da realidade e tampouco ser alheio a ele. O sentimento de impotência é a constante da existência humana. Criamos ilusões que se elevam a verdades por uso, ideias quintessenciais e frutos da etérea matemática. O conhecimento humano desconhece a verdade, pois é apenas uma forma de interpretá-la. Tudo o que julgamos saber é fruto é interpretações imperfeitas de abstrações sensoriais.
          Talvez nossa busca existencial seja infundada. A crença de que existe um padrão universal que rege a tudo é, pensando bem, utópico demais. O próprio universo é desordenado e desprovido de propósito. Somos obra do mero acaso, tão ínfimos em significado quanto a realidade que nos abriga. Cada homem é um universo, tão imenso em singularidade quanto pequeno em importância. Os sentidos limitam e, logo, só existem verdades pessoais, universais para quem as detém, frutos mais da fé que da observação, e tão reais quanto a realidade que é vista, sentida e escutada; uma infinita serenidade concentrada em um ponto.

Ferreira_GMV